Por: Patrícia Vieira
Mesmo com o avanço da internet, inclusive redes sociais, telefones
celulares, entre outros aplicativos de comunicação, a transmissão por longa distância, através do rádio em ondas curtas, ainda encontra
adeptos em todo o mundo. No Brasil, existem vários grupos em atividade.
Lages já chegou a ter um Clube de Radioamadores.
Natural do Rio Grande do Sul, e morando na cidade desde a infância,
Fábio Luis Guedes, de 52 anos, é um dos apaixonados por essa atividade.
Desde muito jovem sempre gostou de ouvir rádios broadcasting. Teve seu
primeiro contato com o mundo das comunicações e, em especial, com o
radioamadorismo, no ano de 1978. “Havia um senhor que morava na Rua 7 de
Setembro, próximo à Praça Leoberto Leal e que tinha um Rádio PX no seu
carro. Vez ou outra eu ouvia e ficava encantado com seus contatos com
pessoas de outras cidades e países.
O irmão de uma colega de escola
tinha um radinho desses em casa e um dia me mostrou o funcionamento
mantendo contato com uma pessoa na Bahia,” conta Fábio.
Ele diz que para obter a outorga do serviço de radioamador, é necessário
uma prova na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para garantir
o Certificado de Operador de Estação de Radioamador (COER). “Faz cerca
de dez anos que fiz essa prova na Anatel e obtive o meu indicativo de
chamada, ou seja, o indicativo de estação.”
Sua estação de rádio funciona em sua residência, localizada no Bairro
Guarujá. O indicativo de chamada utilizado é PP5FZ.
Guedes explica que
esse indicativo de chamada é pessoal e intransferível. Cada estado da
Federação possui um prefixo e um número, por exemplo: Rio Grande do Sul
PY3, Santa Catarina PP5, Paraná PY5, São Paulo PY1, etc. O Sufixo, ou
seja, o que vem depois desses três dígitos, é de escolha do Radioamador,
desde que disponível no banco de dados da Anatel e pode composto por
duas ou três letras. “É uma prática formidável, que me ensinou coisas
novas, permitiu socializar o conhecimento que desenvolvi, me aproximou
de pessoas e possibilitou levar o nome da nossa cidade a muitos lugares
do planeta através das ondas de rádio.”
RADIOAMADORISMO NA REGIÃO
Considerado um hobby técnico ligado às telecomunicações, o
radioamadorismo se destaca como um serviço de utilidade pública
absolutamente voluntário e sem nenhum tipo de retorno financeiro para o
praticante. Além disso, pode ser considerado um esporte de aventura e
competição, já que existem inúmeras atividades nacionais e
internacionais que reconhecem, pontuam e premiam a prática operacional
conjunta (em equipes) ou solo de radioamadores.
Atualmente, o Grupo Escoteiro Heliodoro Muniz, com sede própria nas
dependências do CAV, junto à Udesc, desde 2012 tem incentivado a prática
do radioamadorismo entre jovens e adultos. “O Grupo possui onze
radioamadores entre seus membros e participa de “Contestes” (competição
de radioamadorismo) e atividades voltadas no ramos de comunicação”,
enfatiza Guedes, que também é integrante do grupo de escoteiros desde
desde 1977.
O Clube mais próximo de Lages, fica na cidade de Rio do Sul, que, por
sinal, tem se mostrado sempre atuante junto à Defesa Civil, já que está
localizado em uma área que sofre bastante com enchentes. Além disso,
este clube possui ampla rede de repetidoras de VHF que cobre
praticamente todo Vale do Itajaí e através dos links instalados com
outras redes ampliam de forma significativa as comunicações de
Radioamadores através das frequências de VHF/UHF.
ENTREVISTA COM FÁBIO LUIS Guedes
Correio Lageano: Como conheceu o radioamadorismo?
Fábio Luis Guedes: Desde muito jovem sempre tive predileção por ouvir
rádios broadcasting. Inicialmente, as emissoras locais, depois as de
outras cidades, e até de países distantes. Ouvia num velho rádio que
pertencia ao meu avô. Lembro-me das exposições organizadas pelo 1º
Batalhão Ferroviário no prédio da antiga Embratel, no Centro de Lages.
Ali sempre havia equipamentos de comunicações empregados pelo batalhão e
um funcionário da unidade, que era radioamador, aproveitava para expor
seu rádio (um Yaesu FT7B). Lembro-me, também, da febre do PX na cidade,
que até PX Clube tinha. Na verdade, o nome correto dessa modalidade de
comunicação muito utilizada por caminhoneiros é “Faixa do Cidadão”.
Correio Lageano: Como é ser um radioamador?
Fábio Luis Guedes: As pessoas costumam referir-se ao rádio (também chamado de Transceptor)
ou seja, ao equipamento eletrônico que possibilita a comunicação de
“radioamador”. Radioamador é uma pessoa que gosta de rádios de
comunicação e sua utilização. É a pessoa e não o equipamento. Sempre
tentando melhorar suas antenas, sua estação, muitas vezes até mesmo
construindo seus equipamentos, buscando contatos mais distantes, lendo a
respeito de eletrônica, eletricidade, enfim, sempre buscando novos
conhecimentos. Além disso, é uma pessoa sempre disposta a contribuir com
a sociedade seja ajudando a prover comunicações de emergência em caso de
catástrofes ou acidentes, seja transmitindo seus conhecimentos a outras
pessoas. É uma atividade divertida e desafiadora.
Correio Lageano: Como funciona o contato de pessoas de outros países e para que serve
essa prática de radioamadorismo?
Fábio Luis Guedes: No radioamadorismo existem muitos “modos de emissão”, ou seja, muitas
formas de transmitir e receber uma informação. O modo mais popular entre
os radio aficionados é a “fonia”, a utilização do rádio para transmitir
a voz humana. Nos seus respectivos países os radioamadores utilizam suas
línguas oficiais para manter seus diálogos, porém, quando se trata de
comunicações com países de línguas diferentes, costuma-se utilizar o
Inglês ou o espanhol. Quando há domínio do Inglês por parte do
radioamador, a comunicação se torna mais fluida e dinâmica, mas quando a
intimidade com essa língua não é tão aprofundada, usa-se o inglês
instrumental com termos próprios para o radioamadorismo, além do código
fonético internacional, o chamado “código Q”. Uma das práticas mais
difundidas entre os amadores são os contatos de longa distância ou DX.
Essa modalidade propõe ao praticante buscar contatos com o maior número
de possível de países. Cada país é considerado uma “entidade” e são
reconhecidas atualmente 340 entidades DXCC.
Com contatos confirmados com
100 países o Radioamador pode receber o Diploma DXCC concedido pela ARRL
que é a Liga Norte Americana de Radioamadorismo. Todos os países possuem
alguma forma de reconhecimento dos contatos feitos pelos Radioamadores.
No Brasil, temos diplomas concedidos pela Labre (Liga de Amadores
Brasileiros de Rádio emissão) para aqueles que conseguem contatos
através de rádio com todos os estados brasileiros e o Distrito Federal,
diploma para contatos com os 45 países do Continente Americano e dos 21
países banhados pelo Oceano Atlântico, etc. Além da fonia, existem
diversos outros modos de comunicação através de radiofrequência. Pode-se
fazer comunicação através de modos digitais, ou seja, através de
programas que rodam em computadores e que são transmitidos via rádio.
Pode-se usar telegrafia e até transmissões via satélite. Como se vê, tem
muitas coisas para se explorar e aprender.